Assunto: Liderança, Tomada de Decisão e Equipe Tempo de leitura de 6 min
Um dos maiores desafios na gestão de pessoas está em como, quando e de que maneira é possível envolver as pessoas da equipe na tomada de decisão. Atualmente com a construção de novos modelos de gestão objetiva-se trabalhar as relações de confiança e a autonomia das pessoas na realização de suas atividades, como por exemplo a holocracia.
Este novo contexto busca diminuir a necessidade e interferência da gestão, trazendo agilidade à operação. Onde o líder passa a ter um papel de facilitador e orientador das pessoas no trabalho e não mais de comando e controle.
A tomada de decisão, nesse novo modelo de fazer gestão, passa a envolver algumas características que impactam em seu resultado:
- Complexidade, quanto ao número de processos e variáveis que irão demandar maior análise.
- Tempo disponível, normalmente o recurso mais escasso por determinar até quando a decisão deve ser tomada.
- Quantidade de pessoas, quanto mais pessoas no processo maior será o tempo e a complexidade.
- Tema, depende da maturidade e envolvimento das pessoas com o ponto a ser debatido.
Essas variáveis podem trazer dúvidas ao método a ser adotado para fazer a escolha mais assertiva, mas em sua essência a tomada de decisão é o resultado da relação entre o Tempo X Qualidade X Envolvimento.
Tempo
O tempo tem impacto direto na qualidade e envolvimento, pois quanto mais tempo temos maior a possibilidade de envolver mais pessoas para conseguir mais informações, ideias e soluções para a melhor decisão.
O gráfico abaixo exemplifica essa relação da Qualidade(Eixo Vertical) X Envolvimento(Eixo Horizontal), que são determinantes no tempo que levamos para tomar uma decisão.
Essa relação começa em uma decisão autocrática que envolve uma pessoa, tornando-se uma decisão de baixa qualidade mas de rápida escolha. Até uma decisão por consenso, que envolve todas as pessoas da equipe, atingindo alto nível de qualidade na decisão, porém requerendo um maior tempo na tomada de decisão.
Qualidade
A qualidade na tomada de decisão sempre irá depender da correta análise dos cenários por meio de dados e fatos que podem ser encontrados com as pessoas da equipe, por meio de indicadores ou imagens que evidenciam o problema em questão.
Esse processo de análise tem um papel fundamental para minimizar os vieses ou tendências em uma tomada de decisão, apresentados com afirmações, como por exemplo “Deve ser feito desta forma porque sempre foi feito assim.” ou “É parecido com a situação da semana passada, faz igual.”.
Entretanto nunca uma situação irá ser igual a outra é necessário verificar todas as variáveis, pois como menciono, o óbvio só é óbvio depois que seja dito, ou neste caso constatado. Somente depois de evidenciado e comprovado podemos afirmar que algo é igual.
Outro ponto importante na qualidade da tomada de decisão é apresentado pela visão sistêmica. Um dos preceitos do pensamento sistêmico é que nunca temos todas as informações.
Isso traz uma importante constatação, que nunca teremos 100% de certeza em uma tomada de decisão. Por isso não podemos agir cegamente acreditando veementemente em uma decisão e nem ficar paralisados esperando a certeza absoluta.
Então, a dica que posso dar é fazer a pergunta: “com base na decisão tomada, qual é a pior coisa que pode acontecer?”. Assim, ao menos você saberá o que poderá enfrentar se algo não sair como desejado e, previamente, tomar as medidas necessárias para evitar o pior cenário, caso ocorra.
Envolvimento
O envolvimento das pessoas é decisivo para determinar o seu nível de engajamento com a decisão ou solução de um problema. Porém existem fatores culturais e biológicos que influenciam diretamente no nível de engajamento e precisamos compreender.
Culturalmente as decisões autocráticas nunca são bem-vindas e por consequência de difícil aplicação, devido à resistência da equipe em aceitar algo que não foi escolhido por elas. Isso acontece porque apesar de sermos uma nação paternalista com um determinado nível de dependência, vivemos uma democracia caracterizada pela liberdade e individualidade por meio do voto, apesar deste não ser a melhor forma de decisão.
O segundo aspecto é biológico, os autores Richard Dawkins no livro o Gene Egoísta e Yuval Harari no livro Sapiens trazem por meio da ciência comprovações que demonstram que quanto maior o envolvimento emocional e físico, pelo tempo e energia gasto por uma pessoa, mais tempo e energia ela irá despender para manter o que ela já gastou, garantindo o funcionamento do que essa pessoa estiver envolvida.
Esses dois fatores cultural e biológico, mostram que se queremos que as pessoas se importem com as decisões da empresa é necessário envolve-las desde o começo no entendimento do problema e levantamento das opções até a escolha para garantir a aplicação do que foi decidido.
Conclusão
Fazer escolhas é algo que faz parte da natureza do ser humano. É a primeira coisa que fazemos quando acordamos e a última ao decidir quando dormir. É a principal competência de um gestor ou líder quando necessita resolver problemas, destinar recurso a investir, quem promover ou demitir.
São decisões trabalhosas que precisam ser tomadas no menor tempo possível, convergentes aos interesses de todos e que sejam a resposta certa.
Porém como cita Mark Manson, autor do livro “A sutil arte de ligar o foda-se”, estamos sempre errados, a questão é que hoje estamos menos errados do que ontem. Já que a cada dia que passa você sempre terá novas informações, conhecimentos e experiências, que no dia anterior certamente você não tinha.
Por isso busque sempre a melhor resposta, a melhor decisão e não a resposta certa. Amanhã haverão novos cenários, novas possibilidades que poderão mudar todas as perspectivas e certezas que você tinha até o dia de hoje.
Autor: Daniel Fünkler Borelli
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