Assunto: Cultura, Liderança e Gestão de Pessoas       Tempo de leitura: 06 minutos

Se os funcionários estão desmotivados, constantemente em celulares e preocupados com a de hora de ir embora, saiba que isso tem causa e solução.

Você já deve ter ouvido falar em absenteísmo, quando um funcionário não comparece ao trabalho. Já o presenteísmo é quando uma pessoa está presente fisicamente no trabalho, mas ausente mentalmente e emocionalmente, não realizando suas atividades na sua totalidade.

Estudo de 2020, feito pela ISMA-BR, constatou que 23% das pessoas são presenteístas no trabalho, o que na indústria pode chegar a ser 10 vezes maior que o absenteísmo. Em estudo da Eurofound de 2010 o percentual de presenteísmo na indústria era de 35%.

Diferente do que se imaginava, que o envolvimento de um colaborador era uma via de mão única, o presenteísmo mostra que existem condições externo e interno a empresa, que contribuem para a maior ou menor produtividade e engajamento das pessoas.

Ambiente Externo

As condições externas são aquelas quando o funcionário vive uma vida sedentária e acaba frequentemente doente, com dores crônicas, baixa qualidade do sono, problemas pessoais e financeiros, sentimentos negativos ou consumo de bebida ou drogas.

Essas condições debilitam a pessoa, que acaba indo ao trabalho mesmo com seu estado físico ou mental fragilizado, o que resulta em frases ditas ao longo do dia, por exemplo: “Hoje vim só pelo café.” ou “Hoje não paguei nem o café”.

Ambiente Interno

Um dos pontos de maior impacto envolve a cultura e a governança da empesa e acontece quando líderes e gestores veem as pessoas como um recurso ou como algo que pode ser descartado a qualquer momento. Uma visão e pensamento utilitarista, no qual as pessoas são tratadas como objetos e o único objetivo da empresa é obter lucro.

Empresas com esse posicionamento não envolvem as pessoas nas decisões e ações da empresa, existindo um distanciamento proposital da empresa. Para isso, as empresas se utilizam de inúmeras hierarquias e sistemas burocráticos, como se os funcionários fossem analfabetos, irresponsáveis e incapazes, que não tivessem nada além de corpo, como se ainda estivéssemos na idade média ou no início da revolução industrial.

Contudo, estamos no séc. XXI e, diferentemente de algumas décadas atrás, hoje no Brasil 95% das pessoas são alfabetizadas, a maior população brasileira é composta de adultos, são pais ou mães de família, que já tem uma vida estabelecida e suas necessidades básicas como comida, habitação e segurança atendidas.

Atualmente as pessoas buscam um trabalho onde sintam-se úteis, no qual possam contribuir e fazer a diferença. Onde se sintam bem e pertencentes ao grupo, e que o grupo se preocupe com elas, que sejam respeitadas nas suas particularidades, que possam ter autonomia nas suas ações de como podem fazer suas entregas. John Mackey fundador daWhole Food Marketcita que:

“A Culpa não é do profissional supostamente preguiçoso e desmotivado, e sim da empresa que não conseguem criar postos de trabalhos dos quais as pessoas tenham a oportunidade de extrair significado, propósito para sua própria vida”

Pesquisa da Gartner de 2021, sobre experiência do funcionário, evidencia essa necessidade, já que 82% querem ser vistas como pessoas e não como empregados. Entretanto, somente 45% afirmam que isso acontece na empresa em que trabalha.

Outro ponto que colabora para o presenteísmo é quando existem pesos e medidas diferentes para o tratamento e reconhecimento das pessoas. Por exemplo, quando uma pessoa da operação chega atrasada ocorrem questionamentos, reclamações e ameaças de demissão e quando alguém das áreas indiretas se atrasa as pessoas conversam com a pessoa perguntando se ela está bem, se está com algum problema e como a empresa pode ajudar.

Somado a esses aspectos de cultura e governança as causas do presenteísmo podem estar na alta demanda, metas e desafios muito maiores que a capacidade das pessoas contratadas e também na ausência de condições a serem oferecidas pelas empresas, o que cria um ambiente desestimulante.

Efeitos e impactos do presenteísmo

Este contexto provoca, do ponto de vista cognitivo a falta de vontade e dificuldade de concentração e, do ponto de vista físico/emocional, indisposição e desânimo. Esses sinais podem ser observados, quando o funcionário está mais preocupado com a horário da saída do que com o que está fazendo, apresenta constantes atrasos nas entregas planejadas e/ou trabalho acumulado, envolve-se em discussões e conflitos sobre assuntos banais e picuinhas e usa constantemente o celular.

Como resolver o presenteísmo

  • Dialogar com as pessoas que chegam atrasadas, não como cobrança, mas com a intenção de querer ajudar as pessoas a conseguir cumprir seu horário de trabalho. Isso demonstra que a empresa está preocupada com as pessoas.
  • Realizar mensalmente reuniões 1:1, é um modelo de reunião de conversas individuais com os colaboradores, com o objetivo de acolher as dificuldades pessoais e profissionais, e apoiar sobre que é possível resolver, em um diálogo honesto, aberto e acolhedor.
  • Criar um placar envolvente, no qual as pessoas saibam quase que on-line como está o seu desempenho e entregas. Utilize ferramentas como reuniões de diárias de 20 min para confirmação e definição das entregas e Kanban de atividades para priorização e distribuição das responsabilidades, isso irá criar maior envolvimento das pessoas e foco na entrega dos resultados.
  • Realizar semanalmente ou quinzenalmente, momentos de reconhecimento, não estou falando de um simples reforço positivo, isso também é importante. Mas, um momento de reconhecimento pelo que a pessoa fez, valorizando que o esforço vale a pena e que agir de acordo com os valores da empresa são fundamentais para o sucesso. Substitua o tradicional funcionário do mês, por entrega de excelência, por atitude assertiva ou protagonista. Isso reforça para as demais pessoas da empresa o que é esperado delas.
  • Oferecer benefícios com foco no bem-estar, para o cuidado da saúde física e mental dos colaboradores, como exercícios laborais, yoga, vale academia e oferecer consultas com psicólogos e terapeutas. 
  • Revisar as políticas e valores da empresa avaliando aspectos como propósito, desenvolvimento de pessoas,  relações humanizadas, papéis e responsabilidades e remuneração.
  • Preparar a liderança para uma relação mais próxima e afetiva com as pessoas, criar programas de capacitação com temas que abordem o relacionamento interpessoal e desenvolva competências como escuta ativa e comunicação não violenta.

Trabalhar precocemente os impactos do presenteísmo, irá contribuir para a diminuição das faltas injustificadas, afastamento por doenças, aumento do desempenho e queda na quantidade de ações trabalhistas. O que irá colaborar também para o aumento do engajamento, satisfação e bem-estar e, por consequência, redução dos custos, crescimento da produtividade e dos resultados financeiros.

AUTOR: Daniel Fünkler Borelli

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