Muitas pessoas aspiram a cargos de liderança sem se prepararem adequadamente para os desafios que acompanham essa posição. A visão limitada de que ser líder se resume a status, poder e benefícios financeiros ignora os obstáculos e a mentalidade, que vai além do seu próprio ego e interesses individuais, necessária para desempenhar esse papel com eficácia. É crucial desenvolver uma consciência sistêmica e humana sobre a liderança para evitar as armadilhas comuns e abraçar a complexidade do cargo.

Antes de ser líder, a pessoa almeja o cargo, o poder, o status, o salário, a participação nos resultados, o celular ilimitado, a vaga de estacionamento separada e as viagens. No entanto, esquece que junto com os bônus vêm os ônus: responsabilidades, entregas e resultados. Isso só se torna visível no dia a dia quando se ocupa a posição de líder, independente do nível, e se compreende a dimensão e o peso deste fardo.

Um dos maiores fracassos na liderança reside na falta de recursos comportamentais. Muitos líderes não conseguem reconhecer e gerenciar suas próprias emoções, frustrações e limitações, e ainda precisam lidar com as dos seus liderados. A capacidade de autogerenciamento é fundamental para exercer uma liderança eficaz.

No livro “Pipeline de Liderança”, Ram Charan e Stephen Drotter mencionam que esse é o ponto de maior dificuldade nas sete transições da liderança, onde a pessoa deixa de assumir somente as suas responsabilidades e passa a ser responsável por toda a equipe que lidera. Esse processo de acomodação mental ao novo posicionamento pode levar de três a seis meses, um ano, ou até mesmo nunca ser totalmente suportado, devido à dificuldade de não poder mais controlar o próprio processo e depender de terceiros para a realização das tarefas.

Como as pessoas não aprenderam na escola, na faculdade ou em cursos rápidos de liderança a se relacionar e criar vínculos de confiança, quando assumem o papel de líderes e gestores, muitas vezes veem os funcionários como obstáculos às suas entregas e resultados. É fundamental cultivar pontos de conexão, apoio e influência transversal, criando uma rede de networking interna e externa à empresa.

A maioria das pessoas efetivadas no papel de liderança eram bons técnicos, com foco em fazer o processo funcionar e “colocar a mão na massa”. Por não serem preparadas para assumir o papel de líder, insistem no método que as promoveu, tentando gerar entregas e resultados focando apenas no processo e nos componentes como máquinas, ferramentas, sistemas, clientes e fornecedores. Não entendem que seu papel é cuidar, apoiar e orientar as pessoas para que elas cuidem dos processos e efetivem as entregas da área.

Os líderes e gestores são controladores e apegados a atividades operacionais, o que impede que deleguem tarefas. Os motivos variam desde acreditar que vai levar mais tempo para explicar do que fazer, ou crer que farão melhor, até gostar de fazer a atividade e sentir-se útil, pois foi fazendo essa atividade que foram reconhecidos e valorizados. No entanto, é necessário desapegar-se das tarefas operacionais para se tornar um ótimo líder.

Líderes muitas vezes acreditam que precisam saber todas as respostas. No entanto, a verdadeira arte de liderar está mais em ouvir do que falar, e em fazer perguntas ao invés de afirmações. A comunicação eficaz é essencial para o sucesso na liderança.

Quando exercia atividades operacionais, o líder se destacava ao identificar problemas e apontar as causas. Como líder, o foco deve ser outro: não mais no problema ou causa do problema, mas na solução. O líder deve articular soluções para os problemas, em vez de levar mais problemas para o chefe resolver.

Para equilibrar as demandas diárias com uma visão mais estratégica e sistêmica, um líder deve transformar uma mentalidade de curto prazo e egocêntrica, onde a única preocupação é com a sua função ou área específica. É necessário adotar uma perspectiva de futuro, considerando as consequências a médio prazo das decisões tomadas no presente. Além disso, é crucial avaliar as implicações sistêmicas dessas decisões em outras áreas, processos e cadeias de clientes e fornecedores que serão afetados. Dessa forma, o líder amplia sua capacidade de planejar e pensar estrategicamente, sem perder de vista os objetivos imediatos.

Antes, sua preocupação era apenas consigo mesmo, por isso não se preocupava em cumprimentar as pessoas, se relacionar com elas, porque você não dependia das outras pessoas, e por isso não se importava com elas. Mas, ao assumir o papel de líder, você depende delas e, com isso, sua atenção deve estar nelas. Deste modo, seu comportamento deve estar direcionado para elas ao cumprimentá-las, conversar, conhecer quem elas são e saber se precisam de algo. Isso é fundamental para que o engajamento e os resultados aconteçam.

As pessoas entram por salário, mas não se mantêm por esse motivo. Os motivos pelos quais uma pessoa fica e se engaja com a empresa mudaram de elementos extrínsecos, como salário e benefícios, que se tornaram commodity no mercado presente em todas as empresas, para elementos intrínsecos: propósito, princípios, pertencimento e autonomia (PPPA). O que as lideranças não entenderam é como isso tudo acontece, que tem como base o sistema relacional da reciprocidade. O engajamento a partir do PPPA só acontece depois que a liderança se engaja com o colaborador, não o contrário. Engajar está em se interessar e se importar com o funcionário, apoiar e orientar frente aos problemas tanto pessoais quanto profissionais. Se você quer que as pessoas que lidera se preocupem com os seus problemas, entregas e resultados da empresa, primeiro se preocupe com os problemas e entregas delas.

Solidão

Gosto da frase que aprendi com meu pai:

“quanto mais uma pessoa sobe em uma organização, menos cipós tem para se agarrar”.

Quanto maior o cargo que se ocupa, mais distantes as pessoas ficam, provavelmente por desconfiança, insegurança, relutância, ignorância, intolerância, indiferença ou desumanização. Deste modo, é necessário que o líder crie sua rede de apoio, interna ou externa à empresa, para obter diferentes perspectivas. Essa rede pode incluir sua liderança, pares, consultor/analista de gestão de pessoas, amigos, familiares, mentores, terapeutas, psicólogos, ou alguém que seja um porto seguro para ajudar, através da escuta e reflexões, a obter clareza e discernimento em momentos de dificuldade.

A complexidade do papel de líder exige uma preparação integral(inner, soft e hard Skills) e contínua. Além de desenvolver habilidades técnicas e comportamentais, os líderes precisam cultivar uma visão sistêmica e humana, permitindo-lhes tomar decisões informadas e agir de maneira integral e ética. Preparar líderes para enfrentar esses desafios é crucial para garantir que possam guiar suas equipes de forma eficaz e alcançar o sucesso sustentável.

Autor: Daniel Fünkler Borelli

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