Empresas enfrentam desafios culturais estruturantes que impactam diretamente o bem-estar de seus funcionários, a performance das equipes, a eficácia nas atividades, a qualidade das entregas, a eficiência dos processos e a satisfação dos clientes e acionistas. No entanto, em vez de resolverem as causas reais desses problemas, muitas organizações optam por soluções paliativas e alegóricas. Como menciona Marcelo Cardoso, “as empresas querem colocar esparadrapo em uma fratura exposta”.

Quando uma empresa enfrenta problemas como alta rotatividade e absenteísmo de pessoal, queda no engajamento ou aumento dos casos de burnout (um estudo da Gallup mostra que 23% enfrentam esse problema constantemente e outros 44% relatam sentir-se esgotados eventualmente), é comum que busquem soluções imediatas que são frequentemente implementados através de programas de bem-estar, como conversas com psicólogos, ginástica laboral, trabalho flexível, com sala e seus inúmeros puxadinhos e suas áreas de lazer, atividades de mindfulness, de descompressão, do sono. Embora bem-intencionadas, essas iniciativas atuam apenas nos sintomas, sem tocar nas causas profundas do problema.

Esse processo paliativo é como “pintar uma parede mofada sem resolver a causa do mofo”. Essa metáfora ilustra como muitas empresas tentam ignorar ou trabalhar de forma superficial com os problemas, em vez de enfrentá-los diretamente. Se a origem do mofo não for eliminada — seja um vazamento oculto, ausência de impermeabilização, drenagem inapropriada ou uma falta de ventilação — a pintura vai durar pouco, e o problema retornará.

Sendo a mão de obra um elemento barato no Brasil em comparação a países desenvolvidos, as empresas têm a tendência de compensar com o esforço humano:

  • Falha no planejamento
  • Foco somente no acionista
  • Processos inapropriados
  • Equipamentos sem condições
  • Escassez de recursos
  • Recursos mal distribuídos
  • Ausência de sistemas e padrões de trabalho
  • Informalidade das rotinas de execução
  • Carência nas estruturas de comunicação
  • Inexistência de papéis e responsabilidades definidos
  • Informações insuficientes e falta de transparência
  • Deficiência na clareza dos resultados e objetivos
  • Morosidade ou mudanças constantes nas decisões
  • Desconhecimento ou despreparo da gestão
  • Relações interpessoais distantes e impessoais
  • Gestão de pessoas não conduzido pelas lideranças

Todos esses problemas reais e crônicos que muitas organizações enfrentam, provocam e trazem para as pessoas problemas como:

  • Trabalhar por longas horas durante um período prolongado
  • Incapacidade de resolução devido ao crescimento da complexidade dos problemas
  • Tudo se torna urgente, tornando o tempo limitado para solucionar
  • Pessoas trabalhando nos períodos de ferias
  • Discrepância entre cargo e preparo das pessoas
  • Ausência de apoio relacional e isolamento
  • Falta de reconhecimento (nunca está bom)
  • Burocracia excessiva pela falta de organização e confiança
  • Interrupções constantes; ausência de clareza dos objetivos
  • Comunicação ineficaz; rediscussão de decisões já tomadas, desinformação e desentendimentos
  • Clima de medo, insegurança e coação
  • Cultura da rivalidade entre pessoas e áreas
  • Presença do EGO e ausência de cooperação (ECO)

Quando uma empresa demanda essa compensação, o resultado inevitável será problemas de qualidade, atraso nas entregas, aumento dos custos, excesso de conflitos, exaustão, estresse e o surgimento de doenças mentais e físicas elevando a rotatividade, absenteísmo e presenteísmo.

Por trás dessas abordagens paliativas, o que se revela é uma cultura organizacional disfuncional. Quando o ambiente de trabalho é tóxico, quando líderes são inadequados ou não sabem reconhecer o valor de suas equipes, e quando as práticas de gestão estão desalinhadas com as necessidades da empresa e dos colaboradores, qualquer tentativa de cura será apenas superficial. Empresas que não reconhecem ou enfrentam essas questões acabam perpetuando um ciclo de desgaste emocional e esgotamento físico entre seus colaboradores e descredito da própria empresa e suas lideranças.

A maioria das empresas está em um grau de sobrevivência em sua maturidade e consciência, trabalhando hoje para pagar as contas de ontem. Isso faz com que gestores e líderes tenham o foco em resultados rápidos, o que pode levar a soluções imediatistas e superficiais em vez de investir em mudanças estruturais profundas, tendo uma postura mais eficaz de resolver de uma única vez, do que fazer o mais rápido possível para se livrar.

Para uma mudança real e sustentável, as empresas precisam ir além da pintura. Precisam investigar e agir profundamente nas raízes dos problemas. Isso significa:

  1. Ter clareza e constância nos objetivos
  2. Ter uma visão de longo prazo, mas com ações coerentes no presente
  3. Questionar práticas e rotinas de gestão
  4. Implementar práticas de governança transparentes
  5. Envolver as pessoas no “PORQUÊ?”, direcionando o “O QUÊ?” e permitindo autonomia no “COMO?”
  6. Investir em processos e estruturas eficazes
  7. Garantir que os recursos sejam apropriados e suficientes
  8. Preparação continuada das pessoas
  9. Identificar e atuar sobre as lacunas e sobreposições no organograma, com seus papéis e responsabilidades
  10. Implementar processos de reconhecimento alinhados à visão da empresa
  11. Estabelecer indicadores de comportamentos/entregas direcionados aos valores e objetivos da empresa
  12. Construir um diálogo de mão dupla, estar aberto à escuta das dores e obstáculos, bem como às sugestões de resolução
  13. Implementar sistemas de hora extra pontual e de curta duração; após 60 dias, contratar outras pessoas ou terceirizar o serviço
  14. Possuir programas de bem-estar físico e mental para manutenção e identificação de potenciais dificuldades

Enfrentar os problemas crônicos exige coragem e uma nova mentalidade. Significa reconhecer que as soluções não vêm de atividades de bem-estar isoladas ou de expectativas irrealistas em cima de seus colaboradores.

É necessário adotar uma abordagem mais consciente, que valorize a saúde integral dos funcionários e promova um ambiente de trabalho saudável, produtivo, sustentável e duradouro.

As empresas que desejam prosperar no longo prazo precisam parar de apenas “pintar paredes mofadas” ou “colocar esparadrapo em fraturas expostas”. Precisam reconhecer que a verdadeira mudança começa por dentro, enfrentando os problemas crônicos de forma direta e honesta. Somente assim poderão construir culturas organizacionais fortes, saudáveis e verdadeiramente resilientes, pois em uma empresa onde o único objetivo é o lucro continuará em uma eterna batalha onde…

…os acionistas querem o máximo de dinheiro possível,

…os funcionários querem trabalhar pouco e ganhar muito,

…os clientes querem sempre preço baixo,

…os fornecedores querem potencializar suas margens,

…a sociedade quer que as empresas paguem o maior imposto possível,

…e todos se tornam tomadores do sistema.

Dados de 2023 da empresas Humanizadas demonstram que as empresas reconhecidas como “Melhores Para o Brasil” têm colhido frutos significativos ao adotar uma abordagem centrada nas pessoas e na promoção de um ambiente de trabalho saudável. Estas organizações apresentam um turnover demissional 68%, menor que a média do mercado brasileiro. Além disso, o retorno financeiro acumulado dessas empresas é 615% superior ao do índice IBOV, comprovando que o foco no bem-estar e no desenvolvimento humano dos funcionários não apenas melhora a qualidade do ambiente de trabalho, como também impulsiona a performance financeira no longo prazo.

Esses resultados mostram que a liderança consciente, que promove segurança psicológica, bem-estar, confiança e inclusão, é crucial para a criação de culturas organizacionais resilientes e de alto desempenho. Os líderes e gestores de hoje têm a responsabilidade e a oportunidade de criar ambientes de trabalho que não apenas promovam o bem-estar dos funcionários, mas também melhorem a performance e a resiliência organizacional. Ao adotar uma abordagem consciente, que reconheça e resolva os problemas estruturais, as empresas podem prosperar em um mundo cada vez mais complexo e exigente. Agora é o momento de olhar além das soluções superficiais e construir uma cultura organizacional verdadeiramente transformadora.

Autor: Daniel Fünkler Borelli

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