Assunto: Liderança, Cultura e Pessoas. Tempo de leitura: 05 minutos

A escravidão é um fenômeno perturbador que persiste no mundo contemporâneo, embora suas manifestações tenham evoluído. Não se trata mais de trabalho braçal insalubre e sem remuneração, mas sim de um aprisionamento financeiro e psicológico das pessoas, muitas vezes disfarçado sob o pretexto de práticas empresariais. Este artigo explora as formas mais insidiosas de escravidão moderna, que minam a dignidade e a saúde mental dos trabalhadores, enquanto as empresas priorizam o lucro sobre o bem-estar humano.

A Escravidão Moderna nas Empresas

A escravidão moderna nas empresas não é caracterizada apenas por condições físicas deploráveis, mas também por um ambiente que coage os trabalhadores a ponto de aprisioná-los financeiramente e psicologicamente. Isso é alcançado através de ameaças de perda de emprego e um constante terrorismo psicológico imposto pelas lideranças por meio de coação e constrangimento, prejudicando a dignidade e a saúde mental dos funcionários.

A busca desenfreada pelo lucro muitas vezes leva a uma cultura onde as empresas priorizam os ganhos financeiros em detrimento do bem-estar e da dignidade humanos. Para ilustrar a gravidade desse problema, em 2012, na China, mais de 600.000 chineses perderam suas vidas devido à exaustão no trabalho, lançando luz sobre o alto custo humano de um sistema que valoriza o lucro acima de tudo.

Impacto na Saúde Mental e Física

Essa realidade tem um impacto devastador na saúde mental e física dos trabalhadores. Doenças relacionadas ao trabalho, como Burnout, estresse, crises de ansiedade e pânico, estão se tornando cada vez mais comuns, desde de 2017 é a segunda causa de doença por afastamento e cresceram nos últimos cinco anos 68%. No Brasil, em 2019, dados alarmantes revelaram que 86% dos brasileiros sofriam de crises de ansiedade, depressão ou estresse semanalmente.

Um problema que vai além do geracional

Essa situação resulta na desumanização dos trabalhadores, que se sentem tratados como objetos e não como seres humanos com necessidades e limites. Esta realidade, somada ao fato de que, pela primeira vez no Brasil, a maior concentração populacional está na fase adulta, mostra que a maioria das pessoas tem apoio e condições financeiras e educacionais muito maiores do que no passado, criando as condições para que as pessoas estejam encontrando novas formas de buscar satisfação e felicidade, o que está causando um aumento significativo no número de pedidos de demissão.

No ano passado, mais de 7 milhões de pessoas pediram demissão, refletindo uma mudança de mentalidade que prioriza a qualidade de vida em detrimento do salário. Isso acontece porque hoje, as pessoas estão se tornando menos dispostas a tolerar condições de trabalho que prejudiquem o bem-estar físico e, principalmente, psicológico.

O Que as Pessoas Realmente Buscam

Um estudo da The BestWorkPlaces sobre os melhores locais de trabalho, em 2019, destacou que 35% das pessoas valorizam o equilíbrio entre qualidade de vida e trabalho. Além disso, 37% buscavam oportunidades de crescimento e desenvolvimento. Isso reflete o que o pesquisador Daniel Pink traz sobre a busca humana pelos elementos intrínsecos, como autonomia, domínio, aprendizado, curiosidade, amor, pertencimento e significado.

O Papel dos Líderes na Mudança

Os líderes têm um papel fundamental na adaptação a essa nova realidade. Eles não podem mais recorrer a táticas de coação e constrangimento. Em vez disso, devem trabalhar com convicção, fornecer orientação constante e não mais dar ordens, delargar ou determinar. Devem utilizar feedback honesto com o objetivo de ajudar o funcionário a ser uma pessoa e profissional melhor e estimular o progresso a partir de práticas de reconhecimento individual, mostrando que o esforço, dedicação é visto e valorizado, que o empenho vale a pena.

A segurança psicológica, onde os funcionários se sentem à vontade para expressar suas ideias e opiniões, desempenha um papel crucial. Deve haver momentos de conversa, através de ferramentas como o “Meeting 1:1”, para dialogar abertamente sobre dúvidas, orientações, incertezas, medos e preocupações. Onde o colaborador saiba que pode contar com apoio quando comete erros.

A maioria dos líderes, gestores e chefes ainda não entenderam que o líder passa de um papel de controle dos processos, sistemas e serviços para um posicionamento que deve cuidar das pessoas, pois são elas que cuidam dos processos, da empresa e dos clientes.

Lucro e Humanização: Uma Relação Simbiótica

Empresas que adotam uma gestão mais humanizada não apenas melhoram a vida de seus colaboradores, mas também são mais lucrativas. Pesquisas demonstraram que essas empresas lucram de 5 a 10 vezes mais no médio e longo prazo. Isso acontece porque:

  • Quanto mais os funcionários se sentem valorizados e respeitados, os clientes também sentem.
  • O que resulta em clientes mais satisfeitos, o que provoca, com o tempo, o aumento de faturamento, com mais dinheiro, você consegue pagar melhor os fornecedores e os próprios colaboradores, bem como remunerar ainda mais os acionistas e beneficiar a comunidade onde está inserida.
  • É urgente entender que não há mais espaço em nossa sociedade e nas empresas onde queremos compensar a ineficiência dos processos, falhas no planejamento e falta de estrutura por meio do sofrimento e constrangimento das pessoas.

Podemos concluir que a escravidão moderna no ambiente de trabalho é um problema urgente que requer mudanças significativas. Empresas que adotam uma gestão mais humanizada não apenas prosperam financeiramente, mas também contribuem para o bem-estar de seus funcionários e da sociedade como um todo. É hora de romper as correntes do passado e criar um futuro onde o respeito pela dignidade humana seja a norma, não a exceção. A transição para um ambiente de trabalho mais humano não é apenas uma escolha ética, mas também uma decisão estrategicamente inteligente.

Autor: Daniel Fünkler Borelli

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