As empresas, em sua grande maioria, têm uma filosofia de gestão na qual os fins justificam os meios, e o importante é o lucro no final do mês. Para que isso aconteça, a pressão e a força psicológica são aplicadas para que os resultados ocorram.

Esse esforço feito, através do comando, controle, coação e constrangimento, é aplicado não apenas porque é assim que os resultados acontecerão, mas para compensar falhas no planejamento, a ausência de estrutura, a ineficiência dos processos e a despreparo das pessoas, através do esforço massivo dessas.

Entretanto, existe outra forma de fazer as empresas alcançarem resultados financeiros, que não seja através da exploração da mão de obra, adoecimento das pessoas, degradação do meio ambiente, corrupção, evitar regulamentações ou sonegação de impostos. Para isso, o Capitalismo Consciente é um modelo que busca tornar as empresas mais humanas, inclusivas, sustentáveis, perenes, éticas e lucrativas.

Para quem não conhece, o Capitalismo Consciente se estabelece através dos 4 pilares: Liderança Consciente, Propósito, Cultura Consciente e Orientação para Stakeholders.

Liderança Consciente

Nada disso terá importância se o nível de consciência das lideranças, independente do nível de entendimento, não remover a venda da negação e entender que, se a empresa não mudar seu modelo de gestão e negócio, o futuro será fatídico. Atualmente, milhares de empresas estão remodelando seus negócios por um ou todos os cinco motivos: inteligência artificial, economia da experiência com o cliente, mudanças na relação das pessoas com o trabalho, restrições da cadeia de fornecimento (guerras, escassez e política), mudança climática (desastres naturais e migração) e ampliação do nível de consciência dos seres humanos(bem-estar, espiritualidade, visão de longo prazo). E essa transformação do modelo de gestão tem como caminho a ser seguido o Capitalismo Consciente. Uma forma que estende os elementos do ESG, não só em um framework mais algo que é lucrativo de 5 a 10x mais que a média do mercado no médio e longo prazo.

A ampliação do nível de consciência das lideranças tange uma maturidade que tem a compreensão que os resultados não são instantâneos, mais uma construção prévia que passa pelas estratégias, estruturas e execução para que por consequência os resultados surjam. Mas esse discernimento só é possível se as lideranças tiverem uma jornada de autodesenvolvimento que potencialize seus comportamentos, capacidades e competências para desenvolver um nível de consciência que tenha um pensar no longo prazo, mas com ações assertivas e sistêmicas no presente.

Em um comportamento mais ecocêntrico com seu entorno, não olhando somente o financeiro como resultado, mas também sociais, culturais e ambientais, e um posicionamento menos egocêntrico presos em necessidades e carências egóicas e pequenas, de riqueza, poder, mando, controle e atenção.

Quando as lideranças estabelecem práticas que impactam positivamente as pessoas que lideram e não os seus interesses pessoais, todos os indicadores do ambiente da empresa são melhores, do que a projeção de mercado, conforme mostram dados da empresa de pesquisa Humanizadas.

Propósito

As empresas que irão se sustentar no futuro serão aquelas que hoje pensam, falam e agem com o objetivo de produzir um impacto positivo para o planeta e para as pessoas que nele habitam. Gosto da ideia de que a empresa que não resolve um problema, não atende uma necessidade e não gera nenhum benefício, não tem razão de existir. E quando se fala em propósito, é importante entender: por que a minha empresa é importante para a sociedade?

Será a resposta a essa pergunta que fará as pessoas fazerem negócios com você e sua empresa. Não há mais espaço para empurrar um produto ou serviço para o mercado; as pessoas não irão comprar se não houver um motivo real. O verdadeiro objetivo de um propósito é agregar positivamente para todos os Stakeholders e não apenas para os Shareholders.

Propósito não é conversa fiada, mas algo que aumenta os ganhos financeiros de uma empresa. Conforme pesquisa da empresa Humanizadas de 2023, que tem como propósito o centro de toda a sua estratégia, possuem retorno financeiro 615% superior ao IBOV no longo prazo (Retorno financeiro acumulado (%) de Dez/2010 a Dez/2022).

Os resultados positivos se materializam quando o Propósito é internalizado tanto internamente quanto externamente à empresa, atuando como o elo que une as diversas direções das partes interessadas, convergindo em um ecossistema coeso. Isso promove a colaboração de todos os stakeholders em prol da organização.

Cultura Consciente

Atualmente, as empresas estão sofrendo constantemente com rotatividade, absenteísmo, presenteismo, diminuição da produtividade, aumento dos custos e estagnação no lançamento de novos produtos. Devido a um modelo de gestão criado há dois séculos atrás, de comando e controle, onde as pessoas eram imaturas, não tinham instrução e eram irresponsáveis, onde o único objetivo era a sobrevivência, com isso elas precisavam e tinham que se adaptar às empresas.

Com a mudança da nossa sociedade e não somente geracional mais também econômica, as pessoas hoje trabalham para atender suas necessidades que vão além do básico, como comer, ter um local para dormir, segurança e saúde. E isso também se estendeu ao ambiente de trabalho, onde as pessoas não querem somente trabalhar e trocar seu tempo por dinheiro, mas que seja algo complementar a sua vida e que faça sentido para elas e que torne a vida delas melhor.

As empresas que utilizam práticas conscientes em sua cultura com foco no bem-estar das pessoas e construir um ambiente que seja feito de, com e para as pessoas possuem resultados significativamente melhores. Por exemplo, a rotatividade, em comparação com a média do mercado brasileiro, nas empresas que possuem uma cultura mais humanizada é 68% menor e das empresas com certificação do GPTW são 31% menor, isso representa uma redução dos custos de cada funcionário que sai da empresa de R$24 mil, que envolve desde o processo de seleção, treinamento, horas dedicadas do RH e gestores e desligamento

Independente dos elementos culturais que uma empresa possuir a cultura só se torna consciente e perene em uma empresa, quando está consolidada nas normas, procedimento, processo, política, estrutura, rituais e práticas da empresa e não na mente ou no discurso de uma única pessoa ou na liderança principal da empresa, mas incorporado na rotina da organização.

Orientação Para Stakeholders

Muitas empresas têm práticas de stakeholders apenas para atender aspectos legais, de imagem e propaganda ou estratégicas com clientes e fornecedores. Isso deve ir além, por exemplo, a dimensão ambiental não é uma questão de cuidar dos recursos naturais fazendo o correto descarte porque isso é apenas uma questão de leis ambientais.

Também não se trata apenas de utilizar menos recursos naturais em seus produtos, para reduzir os custos operacionais da empresa. Estamos em uma situação em que não basta ser sustentável; temos que regenerar o que foi utilizado ou destruído. Pois a forma como todas as pessoas utilizam o que consomem não será benéfico para ninguém, muito menos para as empresas, que com o tempo, não terão mais como fornecer ou clientes para comprar.

Já no social, vejo muitas empresas apoiando ONGs e entidades de assistência social, isso é muito válido, mas quando se fala de social, se fala de pessoas, e qual as pessoas que as empresas têm mais influência? São as pessoas que trabalham dentro das empresas. Para acabar com as desigualdades e mitigar a pobreza, está na mão das empresas contratar pessoas mais vulneráveis, mais diversas em todos os graus de pobreza, instrução, cor, idade, gênero, religião, e introduzi-las na sociedade com trabalho digno e     com perspectiva. Porque se nada for feito, aumentaremos esse abismo entre nós e os outros, e com isso o mercado econômico que todos conhecemos irá desaparecer; por isso, sim, esse é um problema de todos, inclusive das empresas e não somente do governo.

Círculo Virtuosos

As pessoas têm dificuldade de entender por onde iniciar essa transformação, a virada de chave de uma empresa começa com o cuidado e bem-estar de todas as pessoas que trabalham para a empresa, porque se as pessoas se sentirem bem, os clientes que são atendidos por essas pessoas também se sentirão satisfeitos e, com isso, esses mesmos clientes irão comprar e indicar mais sua empresa, e com isso seu faturamento irá aumentar, podendo assim remunerar melhor os próprios funcionários da empresa, contratar os melhores fornecedores, e com isso os clientes irão comprar mais e assim você poderá pagar mais impostos e ajudar a sociedade e, por consequência, os acionistas também ganharão.

Ao estabelecer esse ciclo teremos o que todos falam GANHA-GANHA-GANHA a empresa ganha, os stakeholders ganham, e a ecossistema como um todo também, fechando assim um ciclo positivo, prospero e perene.

A Hora Da Mudança

Essa mudança não é uma utopia que só funciona fora do Brasil, só para ter uma dimensão, o Capitalismo Consciente do Brasil tem 7170 associados, das empresas do Brasil com práticas consolidadas e certificadas pelo sistema B são mais de 300, em um mentalidade e sistema de gestão e negócios em que todos ganham. Contudo, os ganhos que foram mostrados ao longo do texto, passam por uma mudança de postura de como as pessoas, mas principalmente as lideranças, veem essa transformação que é inevitável.

Porque ao não realizar essa transformação e permanecer em uma postura, onde o único objetivo é o lucro continuara em uma eterna batalha onde…

…os acionistas querem o máximo de dinheiro possível

…os funcionários querem trabalhar pouco e ganhar muito

…os clientes querem sempre preço baixo

…os fornecedores querem potencializar suas margens

…a sociedade quer que as empresas paguem o maior imposto possível

…e todos se tornam tomadores do sistema. Pois como já falava Henry ford  

“Uma empresa que não gera nada além de dinheiro é um negócio pobre.”

Gosto de comparar que essa mudança de modelo de gestão será como foi a adequação aos sistemas de qualidade; tem empresas que mudaram por convicção, entendendo que só queriam um certificado para comprovar que já ofereciam um produto ou serviço com qualidade ou entendendo que seria um diferencial competitivo. Depois vieram as empresas que iniciaram por conformidade, porque o mercado exigiu a utilização deste sistema e por último, tiveram aqueles que se movimentaram por constrangimento, quando se deram conta que só faltava eles se adequarem as práticas de qualidade. A pergunta que resta é saber em que momento você vai escolher para mudar?

Autor: Daniel Fünkler Borelli

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