Por décadas se debate sobre os impactos da automação no mercado de trabalho. E por muito tempo, temeu-se que a automação eliminaria empregos em massa, mas a realidade parece apontar para uma situação oposta: a escassez de mão de obra tornou-se um desafio crítico para as empresas. O que antes era considerado uma ameaça, a automação hoje emerge como uma possível salvação para as empresas enfrentarem a escassez de pessoal.

O mercado atual enfrenta desafios substanciais devido à falta de mão de obra. As novas gerações estão tendo a opção de escolher o que, como e quando trabalhar e o aumento dos pedidos de demissão por parte dos colaboradores são sintomas de uma crise iminente, exigindo das empresas uma nova abordagem para conseguir pessoas para fazerem parte das suas empresas.

O problema da falta de mão de obra

Uma pesquisa divulgada anualmente em nível mundial pela ManpowerGroup mostra que, no Brasil, em 2023, houve uma ausência de mão de obra qualificada de 80%, enquanto a média mundial é de 77%, atingindo o nível mais alto em 17 anos. Para se ter uma ideia, esse número mais que dobrou em relação a 2013 em nível mundial, quando os números eram de 35%.

Especificamente no Brasil, esse fenômeno se intensificou após a pandemia em 2021, quando começaram a ocorrer aumentos nos pedidos de demissão. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego mostram que, em setembro de 2023, atingimos o maior índice da história, com 7,1 milhões de pessoas pedindo demissão.

Proveniente da queda do índice de desemprego do país, que em novembro de 2023 registrou uma mínima de 7,5% da população desempregada, enquanto a população ocupada chegou ao recorde de 100,5 milhões de pessoas, o maior número da série histórica.

Mudança nas Preferências e Desafios Futuros

As condições de segurança no emprego foram criadas, o que significa que as pessoas se sentem mais seguras ao buscar um novo emprego com melhores condições. De acordo com uma pesquisa da Randstad de 2023, realizada com 35 mil pessoas em todo o mundo, 50% delas sentem-se confiantes de que encontrarão rapidamente outro emprego se perderem o atual.

A segurança no emprego, aliada ao aumento da população na fase adulta, com uma média de 35 anos conforme o CENSO de 2023, proporcionou as condições para uma mudança no que as pessoas buscam no ambiente de trabalho e o em seu estilo de vida. Conforme o estudo Best Workplace 2019 divulgado pela GPTW, concluiu-se que os dois principais motivos que os colaboradores buscam no ambiente de trabalho são, respectivamente, oportunidades de crescimento (37%) e equilíbrio de vida (35%).

Essa busca se mostra cada vez mais presente e latente no Brasil. Uma pesquisa realizada em 2024 pela Randstad identificou que 61% dos profissionais no Brasil não aceitariam um emprego se acreditarem que isso afetaria negativamente seu equilíbrio entre vida pessoal e profissional, enquanto globalmente esse percentual é de 57%. Além disso, 53% deixariam o emprego se ele não oferecesse oportunidades de progressão na carreira, enquanto globalmente esse número é de 35%.

Solução para o problema

Diversas práticas têm sido adotadas pelas empresas para minimizar esse problema. De acordo com uma pesquisa da ManpowerGroup, o investimento no desenvolvimento de colaboradores lidera no Brasil e no mundo como a principal prática adotada. Isso se mostra uma estratégia inteligente, pois buscar profissionais que tenham uma maior conexão com a cultura da empresa, mesmo sem instrução formal, e os preparar para cobrir lacunas no presente e no futuro.

Outra prática adotada por grandes organizações é trazer de volta ao trabalho pessoas que se aposentaram, e oferecendo posições que estavam antes da aposentadoria ou realocando-as em posições mais simples e com menor responsabilidade.

Desafios futuros

O futuro das empresas é sombrio, apresenta desafios consideráveis com a queda da taxa de natalidade no Brasil. Segundo o IBGE, em 2021, nasceram 2,63 milhões de pessoas no país, representando 1,6% a menos do que no ano anterior e o menor índice desde 2003 (3,42 milhões). O problema não será apenas a falta de mão de obra qualificada como as empresas enfrentam atualmente, mas a falta de qualquer mão de obra. Nesse contexto, a aplicação em massa de processos e sistemas automatizados se tornará a grande solução das empresas para mitigar perdas e reduzir a dependência da mão de obra para trabalhos braçais e repetitivos.

Automação e o Mercado de Trabalho

Contrariando as expectativas iniciais, a automação surge como uma tábua de salvação para as empresas diante da falta de pessoas. Sistemas de inteligência artificial, automação de processos e robótica capacitam as organizações a aumentar a eficiência operacional, reduzir custos e preencher lacunas da ausência da mão de obra.

Essa transição, conforme citado pelo Instituto McKinsey, não ocorrerá de forma imediata. Embora a viabilidade técnica da automação seja importante, ela não é o único fator que influenciará o ritmo e a extensão com que essa automação será adotada. Entre outros fatores, há o custo de desenvolver e implantar soluções automatizadas para usos específicos no local de trabalho, a dinâmica do mercado de trabalho, que inclui a qualidade e quantidade da mão de obra e os respectivos salários.

Mesmo que aconteça em uma velocidade maior do que estávamos acostumados a ver, como aconteceu com o trabalho home office que de uma hora para outra se tornou algo presente em todas as empresas e em grande escala a aplicação em massa da automação não resultará em um declínio massivo de empregos e seu fim. Pelo contrário, representará uma mudança na natureza das ocupações. Setores como manufatura, varejo e serviços têm adotado tecnologias para otimizar processos, não para substituir completamente trabalhadores, mas para realocar suas habilidades para funções mais estratégicas e de maior valor agregado, que demandam mais criatividade e intelecto humano, como nas áreas de desenvolvimento, design, atendimento personalizado e inteligência artificial. Para aqueles que ainda temem a perda do emprego, dados históricos da Inglaterra, berço da Revolução Industrial, com mais de 150 anos, mostram que a automação nunca eliminou empregos; pelo contrário, trouxe mais empregos, e empregos melhores e mais remunerados. Em 1855, o número de empregados no setor privado, que era de 10,9 milhões, atingiu 27 milhões em 2018, registrando um aumento de 57%.

Conclusão

Lembro-me do meu professor do SENAI falando que o futuro da indústria será uma fábrica às escuras com robôs, onde haverá apenas um homem e um cachorro. O cachorro cuidará para que ninguém chegue perto das máquinas, e o homem alimentará o cachorro. A automação, uma vez temida como a causa da perda de empregos, revela-se agora como a resposta para evitar que empresas e, por consequência, a sociedade entrem em colapso devido à escassez de mão de obra.

A integração adequada de tecnologias automatizadas não apenas garante a continuidade das operações aumentando a lucratividade das empresas e por consequência a longevidade das mesmas, mas também oferece oportunidades para o desenvolvimento de habilidades e funções mais especializadas e sistêmicas, resultando em um mercado de trabalho mais dinâmico, adaptável e com melhor qualidade de vida e bem estar para as pessoas.

Autor: Daniel Fünkler Borelli

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