Assunto: Gestão de Pessoas e Comportamento                                                             Tempo de leitura: 06 minutos

Como esses três elementos se relacionam e quais os seus impactos para a produtividade das empresas e bem-estar das pessoas.

Com a maior dependência das empresas do capital intelectual, ou seja, de capacidades cognitivas como criatividade, tomada de decisões e solução de problemas e, não mais da mão de obra braçal, o engajamento e comprometimento das pessoas com as organizações tornou-se valioso para as empresas. Já que, diferentemente do trabalho repetitivo, onde o comprometimento de uma pessoa é avaliado pelo volume de produção, vendas ou serviços prestados, a criatividade não tem hora para acontecer e não existe uma forma precisa para mensurar os potenciais ganhos de uma única ideia.

Devido a essa mudança de paradigma as empresas vêm transformando seus ambientes físicos de trabalho para espaços mais abertos e integrados, remodelando programas de recompensa e reconhecimento e adotando modelos de gestão democráticos em suas decisões. Estes, por sua vez, incluem maior autonomia, liberdade com responsabilidade, através de horário e local de trabalho mais flexíveis, atraindo e mantendo as mentes mais talentosas.

Sobre isso, os professores da Universidade Federal da Bahia, José Ribeiro e Antônio Bastos, tecem o seguinte comentário:

“As empresas estão percebendo que as vantagens competitivas na área de tecnologia, gestão, processos e produtos estão ficando, progressivamente, mais efêmeras, pois a concorrência tem demonstrado capacidade de identificar e mimetizar, com celeridade crescente, os diferenciais das empresas pioneiras. No mundo do trabalho, o comprometimento é o atributo único e exclusivo de uma equipe de determinada organização, que não pode ser clonado por outros competidores e que propicia constância e vigor ao seu ânimo competitivo.”

Deste modo o engajamento do funcionário tornou-se um fator essencial para o êxito das empresas, o que foi demonstrado em pesquisa global, realizada pela Harvard Business Review Analytics Services, que entrevistou 568 executivos, onde 71% deles classificaram o engajamento do funcionário como algo muito importante para o alcance do sucesso organizacional.

Essa ampliação do entendimento dos executivos quanto a relevância da satisfação, bem-estar e felicidade do funcionário e, por consequência, o seu comprometimento, é motivada pelos prejuízos que tem acometido as empresas em virtude de problemas de saúde como estresse e depressão. Nos Estado Unidos, o American Institute for Stress, estima, em U$300 bilhões por ano, o prejuízo das empresas relacionado ao estresse em decorrência de acidentes, absenteísmo, rotatividade, custos médicos, prêmios de compensação e redução da produtividade.

Outros estudos que estão despertando o interesse dos gestores estão relacionando a importância da felicidade na produtividade. Num deles, desenvolvido pelos professores e pesquisadores Barry M. Staw, Robert I. Sutton e Lisa H. Pelled, da Universidade da Califórnia de Berkeley e da Universidade de Stanford, durante dezoito meses acompanhando 272 funcionários ficou evidenciado que as pessoas que demonstravam mais emoções positivas como felicidade, tiveram avaliações mais favoráveis de seus supervisores ​​e salários mais altos. O autor e professor da Harvard Shawan Achor, um dos maiores especialistas sobre felicidade, descreve que pesquisas denotam o aumento da produtividade em 31% e das vendas em 37%, quando o cérebro está em um estado positivo.

Assim, pode-se concluir que quanto maior o nível de felicidade, menores serão os custos operacionais com afastamento, absenteísmo e rotatividade de funcionários e, maior será a produtividade e o comprometimento das pessoas. O nível de engajamento pode ser determinado pelos aspectos interno e externo do ser humano.

Para Daniel Pink, escritor e pesquisador, e Fred Kofman, esses aspectos são convergentes já que existem dois fatores que estabelecem as condições necessárias para a motivação intrínseca: o propósito e a autonomia. Enquanto o propósito é a razão de ser, o que dá sentido à vida, um senso de finalidade no que se faz, propiciando um senso de importância e o sentimento de estar fazendo a diferença no mundo. A autonomia, por sua vez, é a sensação de estar no controle da sua vida, tendo liberdade na forma de criar, fazer e concretizar em ambientes que propiciem o aprendizado e a realização.

Richard Barrett, autor britânico especialista em liderança e evolução cultural, resume essa ideia e menciona que a chave do engajamento está em encontrar o significado e o propósito de sua vida e, ao identificar esse propósito, você deve alinhá-lo ao propósito da organização, tendo assim a liberdade de buscar um trabalho que seja convergente ao seu sentimento de realização pessoal.

Apesar de, para algumas pessoas, o tema propósito poder parecer um jargão da moda para as novas gerações, ele estende-se para pessoas de qualquer idade, sexo, gênero, condição social, econômica ou grau de escolaridade. Já que, à medida que as necessidades fisiológicas, de segurança, relacionais e autoestima são atendidas e satisfeitas, a busca pelo propósito da vida mostra-se cada vez mais importante para a felicidade e bem-estar das pessoas. Em pesquisa realizada pela Escola de Negócios de Stanford, aproximadamente 400 americanos de 18 a 78 anos responderam questões que identificaram que encontrar o significado da vida e ser feliz se sobrepõem.

Contudo, existem condições externas que influenciam o grau de comprometimento. Para Martin Seligman, atualmente a maior referência da psicologia positiva, a felicidade e o engajamento vão além de um propósito de vida. Em suas pesquisas com pessoas de diferentes culturas, crenças e profissões, conclui que o contentamento e a gratificação pelo que fazemos acontece quando a tarefa é desafiadora e exige habilidades, os objetivos são claros, o feedback é imediato, o envolvimento é intenso e natural e existe um senso de controle.

Outras influências dos aspectos externos são apresentadas em estudo das empresas Dale Carnegie e MSW Research que, em 2012, entrevistaram mais de 1500 funcionários e identificaram que os principais fatores que impactam diretamente no engajamento e comprometimento do colaborador dependem de três estruturas fundamentais da empresa: o relacionamento direto com o superior, acreditar na alta gestão e liderança da empresa e o orgulho de trabalhar na empresa. O estudo reitera que, entre todos esses pontos, o engajamento é determinado, principalmente, “pela atitude e pelas ações do supervisor imediato, que podem melhorar o engajamento do funcionário ou podem criar uma atmosfera onde um funcionário se torna desengajado.”.

Um dos fatores externos que os gestores e executivos de empresas vinculam ao engajamento e à felicidade é a quantidade de dinheiro que um funcionário ganha. Porém, diversos estudos e pesquisas são claros em afirmar que o nível de envolvimento de um funcionário com a empresa não é só uma questão de dinheiro. Isso porque as pessoas estão descobrindo outros fatores de satisfação e felicidade com a vida.

O jornal New York Times declaro que “Dinheiro realmente não pode comprar a felicidade”, baseado na informação que entre 1970 e 1999 a renda nos Estado Unidos aumentou 16%, enquanto o percentual de indivíduos que se considerava “muito feliz” caiu de 36% para 29%. Esta constatação é convergente ao estudo publicado pelo psicólogo e professor das Universidades de Utah e da Virgínia, Ed Diener, que mostra que pessoas com nível salarial médio não têm alteração na satisfação com o trabalho devido a mudanças no salário.

Outra evidência, esta de uma pesquisa sobre engajamento e remuneração publicada pela Harvard Business Review, realizada com 1,4 milhão de funcionários, em 49 setores e 34 nações, reforça essa conclusão, que não existe diferença significativa no engajamento dos funcionários por nível de pagamento.

Um dos maiores fatores de contribuição externa para a satisfação do funcionário, segundo Richard Barrett, está no reconhecimento. O que foi apresentado em pesquisa realizada pelo Barrett Values Center, que avaliou mais de 106 empresas de 21 setores da atividade econômica em 10 países. A partir da avaliação dos 10 maiores valores, verificou-se que 64% dos questionários mostraram o reconhecimento do funcionário como o valor mais pontuado pelos colaboradores. A importância deste valor se mostrou indiferente para as empresas no maior ou menor nível de satisfação, confiança e engajamento dos funcionários.

Importante ressaltar que, sem a devida percepção dos elementos intrínsecos e extrínsecos pelas pessoas, uma empresa terá somente funcionários que cumprem seu horário e fazem somente as tarefas que são demandadas. Neste contexto, não existirá o que Viviane Mansi, atual diretora de comunicação, relações públicas e sustentabilidade da Toyota, chama de pessoas engajadas:

“pessoas engajadas são mais produtivas, melhoram sua capacidade de inovação e estão mais dispostas a superar barreiras iniciais para alcançar objetivos maiores.”.

Autor: Daniel Fünkler Borelli

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