Na era da Sociedade 5.0, marcada pela convergência de tecnologias avançadas, bem-estar humano e um foco crescente na sustentabilidade e regeneração do planeta, a liderança está passando por uma transformação profunda. Não se trata apenas de gerenciar processos e alcançar metas, mas de cultivar um ambiente onde os indivíduos se sintam valorizados, engajados onde os resultados surjam como consequências do comportamento direcionados para um propósito que impactam positivamente todos os stakeholders.

O Contexto Atual da Liderança

Os modelos tradicionais de gestão, de estrutura mecanicistas focadas exclusivamente no lucro, estão se tornando obsoletos. Esses modelos frequentemente resultam em ambientes de trabalho que priorizam o controle e a conformidade, levando as pessoas à insatisfação, ansiedade e depressão. Dados do ministério do trabalho apontam que transtornos mentais são a segunda maior causa de incapacidade no trabalho, com uma taxa crescimento de 68,6% entre 2017 e 2021.

A insatisfação no ambiente de trabalho é um reflexo de um modelo que objetifica as pessoas com algo a ser utilizado e descartado, negligenciando suas necessidades emocionais e psicológicas. Essa percepção tem relação direta com a liderança, pois pesquisa da Gallup indica que 75% das pessoas que optaram por deixam seus empregos o fizeram por causa do chefe.

Isso ocorre devido à postura de gestores que escolhem liderar por meio da coação e do constrangimento, criando um ambiente de aprisionamento financeiro e psicológico para os trabalhadores. Essa abordagem prioriza exclusivamente o lucro em detrimento do bem-estar e da dignidade humana, resultando em um ambiente de trabalho opressivo e desmotivador.

Hard e soft skills da Liderança

Na Sociedade 5.0, os líderes precisam equilibrar uma combinação de hard e soft skills para navegar pelas complexidades do ambiente de trabalho moderno. As 10 principais competências de 2023 destacadas pelo Fórum Econômico Mundial são essenciais.

Entre as hard skills, os líderes devem possuir pensamento crítico, pensamento criativo, alfabetização tecnológica e controle de qualidade, permitindo-lhes resolver problemas complexos e inovar continuamente.

Simultaneamente, as soft skills são cruciais para a eficácia da liderança. Resiliência e adaptabilidade são fundamentais para ter agilidade às mudanças, enquanto motivação e autoconhecimento ajudam a manter o equilíbrio pessoal e profissional. Curiosidade e aprendizado contínuo incentivam o desenvolvimento constante, enquanto confiabilidade exige um compromisso com a ética e a responsabilidade social, visando o bem-estar das pessoas e do planeta.

Já a atenção aos detalhes garantem a execução precisa das tarefas. Empatia e escuta ativa elementos da inteligência emocional são essenciais para construir relacionamentos sólidos, e liderança e influência social componentes da inteligência social, são necessárias para guiar e inspirar as pessoas. Juntas, essas habilidades formam a base para uma liderança eficaz na era da Sociedade 5.0.

As Novas Demandas da Sociedade 5.0

Na Sociedade 5.0, o paradigma muda para um foco na qualidade de vida, bem-estar, sustentabilidade, inclusão e diversidade. Para que isso aconteça as pessoas no papel de liderança precisam ser capazes de conectar-se com as pessoas de maneira genuína, escutando e acolhendo suas necessidades e preocupações sendo uma gestor que exercita a convicção e convencimento.

Os líderes devem ser mentores que inspiram confiança e autonomia. Eles precisam delegar tarefas de forma clara, orientando e preparando seus colaboradores, validando suas capacidades e comprometimento. A escuta ativa tem papel é essencial, onde o entendimento não necessariamente implica em concordância, mas em criar um espaço seguro para o diálogo e a expressão de medos e opiniões, onde as pessoas da equipe se sentem valorizadas e respeitadas em suas ideias.

Transformação das necessidades e motivadores

A motivação no trabalho pode ser intrínseca ou extrínseca. Enquanto os motivadores extrínsecos, como benefícios financeiros e materiais, ainda têm seu lugar, os motivadores intrínsecos estão ganhando mais importância. Autonomia, domínio, aprendizado, curiosidade, amor, pertencimento e significado são fatores que impulsionam o engajamento e a satisfação dos colaboradores.

Empresas que promovem um ambiente de trabalho que valoriza esses motivadores veem resultados que impactam diretamente o engajamento. Uma metanálise da Gallup, em sua base de dados global em 2017, descobriu que organizações com altos níveis de engajamento têm 41% menos absenteísmo, 24% menos rotatividade, 70% menos incidentes de segurança e 21% mais lucratividade.

Desenvolvimento com transparência

Autonomia no ambiente de trabalho é um elemento crucial que promove responsabilidade, inovação e satisfação entre os colaboradores. No entanto, para que a autonomia seja eficaz, é necessário que haja clareza nos papéis, responsabilidades e entregas esperadas. Esse nível de clareza só é possível através da transparência na liderança, onde a comunicação aberta e honesta sobre decisões e mudanças organizacionais é a norma. Quando os líderes compartilham informações de forma transparente, eles reduzem a ansiedade, aumentam o engajamento e criam um ambiente onde os colaboradores se sentem capacitados para tomar decisões informadas e executar suas tarefas com confiança.

Empoderamento e responsabilização andam de mãos dadas com a autonomia. Capacitar os colaboradores a assumir responsabilidades e confiar em suas capacidades fortalece a autoeficácia e cria um ambiente de trabalho dinâmico e proativo. Quando os colaboradores são encorajados a serem responsáveis por suas ações e decisões, eles desenvolvem um senso de propriedade e pertencimento. Essa abordagem não só impulsiona a inovação, mas também promove um clima de confiança e respeito mútuo, essencial para o sucesso organizacional na era da Sociedade 5.0.

Orientar & Reconhecer

O feedback é uma ferramenta poderosa quando utilizado, pois conforme pesquisa realizada em 2013 sobre “Situações dos locais de trabalho do Estado Unidos”, constatou que 40% dos colaboradores são ativamente desengajados quando ignorados completamente pelo chefe.  Mais importante que o feedback negativo, que deve ter um papel orientativo, o reconhecimento frequente e genuíno reforça comportamentos positivos e fortalece o desempenho individual, diminuindo significativamente a rotatividade e o absenteísmo. Separar a pessoa do problema, ser claro sobre os impactos e necessidades, e elogiar comportamentos e entregas positivas realizadas são práticas que promovem um ambiente de trabalho saudável e produtivo.

Segurança Psicológica

A segurança psicológica, simplificando confiança no plural, é um pilar fundamental para a inovação e o aumento do desempenho. Quando os funcionários se sentem seguros para expressar suas ideias e vulnerabilidades, pedir ajuda e assumir riscos, eles são mais propensos a contribuir de maneira significativa para a organização. Gestões humanizadas que priorizam o bem-estar dos colaboradores não só melhoram a satisfação no trabalho, mas também alcançam resultados financeiros superiores comparados aos modelos tradicionais utilizados nas sociedades 3.0 e 4.0.

Caso de Sucesso: Barry-Wehmiller Companies

Um exemplo notável de liderança na Sociedade 5.0 é a Barry-Wehmiller Companies, uma empresa global de equipamentos e soluções de engenharia com um faturamento anual de 4 bilhões de dólares e uma equipe de 12 mil membros espalhados por 300 unidades em 30 países, incluindo o Brasil. Sob a liderança de Bob Chapman, a empresa implementou mudanças significativas para construir um ambiente de trabalho mais confiável e humanizado. A Barry-Wehmiller retirou todos os sistemas que demonstravam desconfiança, como inspeção com detectores de metal, estoques trancafiados, sinais de intervalo e relógio ponto. Chapman afirma que

“Um líder não deve gerir pessoas: ele deve cuidar delas.”

Essa filosofia reflete uma abordagem de liderança que valoriza o bem-estar e a dignidade dos colaboradores, criando um ambiente onde a confiança e a autonomia são fundamentais.

Conclusão

A liderança na Sociedade 5.0 exige uma abordagem mais humana e conectada. Líderes devem ser facilitadores e se engajar no desenvolvimento pessoal e profissional de seus colaboradores, criando ambientes de abertura que valorizem a diversidade, promovam a inclusão e incentivem as interações e relações humanas. Ao fazer isso, não apenas impulsionam a produtividade e a lucratividade, mas também constroem organizações adaptáveis, ágeis e inovadoras, prontas para enfrentar um cenário cada vez mais complexo, rápido, paradoxal e emaranhado.

Autor: Daniel Fünkler Borelli

Presenteie este artigo a um amigo ou, se preferir, compartilhe-o com todos os seus amigos em suas redes sociais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *